Internacional

Portugal comemora nesta sexta-feira os 40 anos da Revolução dos Cravos

Revolução


25/04/2014



 A revolução foi protagonizada por um grupo de militares comandado pelos oficiais Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço, e começou a ganhar forma enquanto trocavam um pneu furado.

A lembrança foi relatada à Agência Efe por Vasco Lourenço, hoje presidente da Associação 25 de Abril, criada para manter vivo o espírito daquele movimento que acabou num piscar de olhos com o regime e criou a base para a volta da democracia em Portugal.

"Quando retornávamos de uma de nossas primeiras reuniões, tivemos um pneu furado e o trocamos. Eram duas da madrugada, mais ou menos, quando disse a Otelo que não íamos solucionar nada com requerimentos e papéis, que devíamos dar um golpe de Estado e convocar eleições. Ele me olhou e disse: ‘Mas você também pensa assim. Esse é meu sonho!’", contou.

De encontros como esse entre militares, surgiu o Movimento das Forças Armadas (MFA), uma entidade nascida em 1973 com o objetivo oficial de "recuperar o prestígio" do exército entre a população e resolver algumas exigências "de tipo corporativo".

Surpreendentemente, o MFA foi autorizado pelo executivo de Marcelo Caetano, herdeiro do ditador Antonio de Oliveira Salazar – morto quatro anos antes -, o que os permitiu atuar dentro de certa legalidade.

"Essa estrutura permitiu nos organizar e reunir, não dissemos abertamente que íamos conspirar contra o governo e dar um golpe de Estado, embora no fundo o propósito era derrubar o fascismo e a ditadura", explicou Basco Lourenço.

Os militares protestavam então pela guerra que Portugal mantinha em várias de suas colônias, um conflito sangrento que se transformou na faísca que acendeu o pavio da Revolução.

No final de fevereiro de 1974, tudo se acelerou. A publicação de um livro do general Antonio Spinola que defendia uma solução política para as guerras coloniais pôs em alerta o regime.

Como consequência, Basco Lourenço foi transferido para as Ilhas Açores, situadas no meio do Atlântico, a 1.500 quilômetros de Lisboa. E, no dia 16 de março, surgiu uma primeira tentativa de golpe de Estado, liderada por seguidores de Spinola, mas que não foi bem sucedida.

O antigo líder do MFA só soube do golpe de 25 de abril por meio de uma mensagem cifrada enviada por telegrama a uma conhecida: ‘Tia Aurora, sigo para os Estados Unidos da América 25.0300′. Um abraço, primo Antonio’.

"O interessante vinha no final, já que me dizia a data e a hora na qual começaria o golpe", relatou Basco Lourenço.
Chegado o dia, Lourenço disse que passou um dos momentos mais angustiantes de sua vida. "Pensava no que teria feito se estivesse no lugar de Otelo, e sabia que teria ocupado uma emissora de rádio. Por isso passei a noite zapeando de uma emissora para outra".

"Primeiro escutei um comunicado em uma emissora no qual se convocava médicos e enfermeiras a irem aos hospitais, o que não me permitiu saber se era nosso ou não. Passaram uns minutos, que a mim pareciam horas, pararam a marcha militar, e escutei os nossos. Fiquei louco", afirmou.



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