Paraíba

OPINIÃO: Rômulo Polari analisa retração econômica no País sem saída e sem inovação

Ex-reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) analisa gravíssima crise econômica, social e politica do Brasil.


18/09/2019

O ex-Reitor da UFPB, professor Rômulo Soares Polari



O ex-reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rômulo Polari, analisa nesta quarta-feira (18), a gravíssima situação da crise econômica, social e política existente no Brasil. O professor  fundamenta a sua preocupação com as propostas de solução baseadas em modelos que nada vêm resolvendo.

 

Segundo Polari, nessa realidade nacional, as tradicionais práticas neoliberais ou do intervencionismo estatal tendem a gerar mais problemas. Urge um novo saber econômico para inspirar uma espécie de New Deal contemporâneo à brasileira.

 

BRASIL À MINGUA DE SOLUÇÃO INOVADORA

 

Rômulo Soares Polari
Professor e ex-reitor da UFPB

 

Há mais de cinco anos, o Brasil namora com o caos. É grave a situação de crise econômica, instabilidade política e esgarçamento social: altos níveis de recessão, desemprego, dívida e deficit públicos. O país encontra-se política e ideologicamente dividido, sem supremacia relevante de direita, esquerda ou centro.

 

O PIB do país caiu quase 5% e o desemprego ficou acima de 12%: 13 milhões de desempregados. A dívida pública/PIB pulou de 52% para 79% e o deficit público de 3,0% para 6,5% do PIB. A inflação e a taxa básica de juros caíram para 3,6% e 6,0%, mas com tanta recessão e perda salarial eram factíveis juros básicos reais negativos.

 

As questões econômicas dominam esse malogro nacional. Economistas enchem a mídia de ideias extemporâneas e soluções que não acontecem. Os (neo)liberais e os keynesianos da intervenção estatal bradam suas velhas teorias, pouco aderentes ao que são o (sub)desenvolvimento brasileiro e o capitalismo globalizado contemporâneos.

 

A crise fiscal do país deve-se muito às políticas do governo, 2011-2014, de forte expansão das despesas e de subsídios a investimentos privados que não se efetivaram. Esse ativismo da demanda, desatento aos limites da capacidade de produção, desorganizou as finanças públicas e gerou inflação e sérios entraves à economia.

 

Desde 2015, busca-se corrigir esses equívocos por vias ortodoxas. E haja insensatez! Sataniza-se o papel do Estado na economia. O governo passou a ter tetos legais para despesas e investimentos. As empresas privadas, presas à lógica do lucro, têm razões para não investir. Assim, as crises econômica e fiscal continuaram firmes.

 

O Brasil e muitos países ricos enfrentam novos problemas complexos. Historicamente, soluções para casos semelhantes exigiram inovações de peso na vida social, econômica e política. A Crise de 1929 parecia ser o fim do mundo, mas foi superada com a aplicação de um novo saber econômico à altura das ações solucionadoras.

 

A Grande Crise eclodiu nos Estados Unidos (EUA) e logo se irradiou em todo o mundo. Nesse país, de 1930 a 1933, os efeitos foram devastadores: o PIB caiu 29%, o desemprego explodiu de 4% para 25% e a deflação foi da ordem de 5% ao ano. A solução veio, a partir de 1934, com as políticas do governo Franklin Delano Roosevelt inspiradas nas novas e revolucionarias teorias do economista britânico John Maynard Keynes.

 

O New Deal, 1934-1937, foi uma vigorosa intervenção estatal nos EUA para recuperar a economia e distribuir benefícios sociais. Isso jamais aconteceria sob as ideias liberais antes prevalecentes. Os EUA, para financiar essas ações, romperam com as velhas regras fiscais: a dívida e o deficit públicos, em relação ao PIB, passaram de 16% e 0,7% em 1930, para 40% e -5% em 1933. No quadriênio 1934-37, o seu PIB cresceu 38%.

 

No presente caso do Brasil, os adeptos da solução neoliberal creem que os mercados vão reativar os investimentos e consumo privados. Isso é improvável, com os atuais níveis de recessão, desemprego, capacidade ociosa e insuficiência de demanda. Para os keynesianos, a recuperação econômica só virá com mais gastos e investimentos do governo. Mas como fazer isso com a atual miséria das finanças públicas?

 

Os problemas brasileiros exigem soluções sustentáveis que transcendem os velhos modelos teórico-econômicos. Urge um New Deal à brasileira, com coerentes ações públicas e privadas inovadoras. Mas cadê o indispensável novo saber econômico? As teorias neoliberais e keynesianas, ultrapassadas pelos fatos, não servem mais para tanto.



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