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‘Maturidade de quem medita é diferente’, afirma neurologista

Especialista em meditação, neurologista avalia que a prática foi crucial para a sobrevivência e a sanidade mental dos 12 meninos tailandeses presos em uma caverna


10/07/2018

In this July 3, 2018, image taken from video provided by the Thai Navy Seal, Thai boys are with Navy SEALs inside the cave, Mae Sai, northern Thailand. With heavy rains forecast to worsen flooding in a cave in northern Thailand where 12 boys and their soccer coach are waiting to be extracted by rescuers, authorities say they might be forced to have them swim out through a narrow, underwater passage. The 13 are described as healthy and being looked after by medics inside the cave.(Thai Navy Seal via AP)



Especialista em meditação, o neurologista Rogério Lima, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), avalia que a prática foi crucial para a sobrevivência e a sanidade mental dos 12 meninos tailandeses presos em uma caverna. O treinador dos meninos, que estava com os garotos, é um ex-monge budista. A Tailândia concluiu nesta terça-feira, 10, o resgate do grupo, preso desde o dia 23 de junho. As informações foram confirmadas pelo comando de elite fuzileiros navais do país, acrescentando que todos estão a salvo.

Como a meditação pode ter ajudado os meninos a não entrar em pânico?

A meditação atua no eixo do corpo neuroendócrino-imunológico. Quando meditamos, estimulamos a produção de neurohormônios, que passam a circular pelo corpo reorganizando o organismo. Mesmo quem não tem treinamento longo de meditação, num ambiente de prática intensiva, como parece que aconteceu na caverna, consegue estimular essa mudança bioquímica.

Qual o impacto dessa mudança bioquímica?

A regularização da frequência cardíaca, da pressão arterial, e a própria percepção do estresse, da dor e da fome.

Mesmo numa situação tão complicada como esta?

Sim, isso é um fato importante. O estímulo externo não muda – eles continuam presos numa caverna. Mas a mudança é na percepção do estímulo, que passa a ser visto de forma menos dramática. Isso impede, por exemplo, que eles entrem em desespero.

O fato de o treinador ser um ex-monge deve ter contribuído também, não?

Sim, o longo treinamento que ele teve foi fundamental, por mais que não seja mais monge. Até para conduzir todas essas crianças e adolescentes, com toda a energia disponível delas, pela quantidade de tempo que ficaram dentro da gruta.

A maturidade emocional da pessoa que medita é diferente, sobretudo, no caso dele, como monge, que teve um treinamento intenso e dever ter começado muito cedo. Nessas sociedades, as pessoas começam a lidar com as questões emocionais desde muito cedo. Na sociedade ocidental é o oposto: a maturação intelectual é mais rápida, mas a emocional é muito mais lenta. A meditação estimula a produção de outros tipos de hormônio de balanceamento, que reorganizam o organismo. E quando nosso filho chora ou o marido reclama, por exemplo, isso não desencadeia mais a mesma série de eventos adversos.

Estadão



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