Educação

Escolas selecionam por parentesco

Ficou pior


04/02/2013



 Sem poder aplicar vestibulinho para selecionar os melhores alunos, escolas particulares de São Paulo com mais interessados do que vagas apelam para árvore genealógica e histórico escolar para distinguir novos alunos. Critérios isentos como sorteio e ordem de inscrição são adotados apenas para vagas remanescentes.

Desde 2006, o Ministério Público Federal tenta impedir as escolas paulistas mais renomadas de submeter crianças a testes. Em abril do ano passado venceu a ação e a Justiça Federal condenou o Estado de São Paulo e a União a uma multa de R$ 2 milhões por omissão no processo seletivo .

As três escolas citadas no processo, Colégio Visconde de Porto Seguro, Gracinha (Nossa Senhora das Graças) e Santa Cruz deixaram de ter a prova e dão exemplos do novo método de seleção que passou a imperar nas instituições mais disputadas. Todos dão lugar primeiro a quem tem na família estudantes ou ex-alunos.

Arquivo pessoal

Ronaldo conseguiu vaga para a filha no Albert Sabin por sorteio. O caçula terá prioridade por parentesco
No Colégio Santa Cruz, 120 das 165 vagas no Pré 1 são para crianças com vínculo familiar com a instituição. O edital determina uma pontuação por parentesco para determinar quem tem mais vínculo entre os inscritos. Irmãos formados, por exemplo, valem 15 pontos e em caso de empate será considerado o número de primos de primeiro grau matriculados. Só para as demais 45 vagas há sorteio entre os inscritos.

O Porto Seguro também adota o critério de parentesco e atende primeiro irmãos de alunos e filhos de ex-alunos. Depois, a matrícula é oferecida por ordem de inscrição, mas antes é feita uma avaliação pedagógica que passa por dinâmica de grupo entre as crianças e avaliação do portfólio. Só então o colégio conversa com os pais sobre as possíveis necessidades do candidato e os responsáveis decidem se o filho fica.

O Gracinha foi o único citado que fez um acordo com o Ministério Público logo no início da ação e já não faz vestibulinho desde 2006. Agora, o processo se baseia em histórico familiar e escolar. As primeiras vagas são para filhos de professores e funcionários, depois entram irmãos de alunos matriculados e, em seguida, filhos ou netos de ex-estudantes. Os próximos prioritários são crianças que fizeram o ensino infantil em uma das 12 escolas consideradas parceiras. “São instituições que tem projeto e atividades alinhados com os nossos”, explica a orientadora pedagógica do Ensino Fundamental do Gracinha, Paula Torres.

Só as vagas restantes são oferecidas para a lista de espera que neste caso é atendida conforme a data de nascimento da criança, começando pelos mais velhos.

Fila por vaga

O analista de negócios Ronaldo Silva dos Santos, 40 anos, começou a busca por uma vaga no 1º ano do ensino fundamental para a filha de 5 anos, Carolina Novaes, em julho do ano passado. Fez várias visitas e gostou mais do Colégio Albert Sabin, mas mesmo com um semestre de antecedência teve de ficar em uma fila.

Acabou fazendo matrícula em mais dois locais enquanto esperava. “Isso é ruim porque quem deveria garantir uma educação de qualidade é o Estado. A gente não confia na escola pública e vai para a privada, mas daí não temos como exigir nada”, lamenta.

Em novembro foi convocado a matricular Carolina. O caçula, Rodrigo Novaes, 3 anos – que inscreveu desde já para evitar reviver a apreensão – não foi chamado. “Tudo bem porque no caso dele não temos pressa e, no ano que vem, ele passa na frente. Vai ter parente na escola.”



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