Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Sociedade alternativa”


08/06/2014

Foto: autor desconhecido.

O escritor ocultista Aleister Crowley, ao escrever o “Livro da Lei”, deu motivação a Raul Seixas e Paulo Coelho para fundarem a “Sociedade Alternativa”, na década de setenta, onde defendiam princípios de comportamento anárquico, numa filosofia em que as pessoas deveriam ter inteira liberdade de fazerem o que desejassem, sem estarem presos a regras ou normas. A iniciativa contrariava o sistema político vigente, a ditadura militar, e por isso a música que se tornara hino da doutrina seria proibida e Raul Seixas expulso do país em 1974, exilando-se nos Estados Unidos.

“Viva! Viva!/Viva a sociedade alternativa!/Se eu quero e você quer/Tomar banho de chapéu/Ou esperar papai Noel/Ou discutir Carlos Gardel/Então vá/Faz o que tu queres/Pois é tudo da Lei, da Lei”. A exaltação da doutrina. Eles pregavam atitudes de liberdade, que podiam ser confundidas com libertinagem. Bastava a vontade para justificar ações individuais, sem limitações, sem proibições, tudo permitido. Existe algo mais esquisito e anormal do que tomar banho de chapéu? Era a forma de demonstrar que todos os desejos, por mais exóticos e estranhos que pudessem parecer, seriam permitidos sem causarem espanto. Podia até sonhar com o inexistente, acreditar em Papai Noel. Discutir coisas que não estão no cotidiano das pessoas como os boleros de Carlos Gardel. A lei era ditada pelas vontades.

“- Faz o que tu queres/Há de ser tudo da Lei/Viva a Sociedade Alternativa!/-Todo homem e toda mulher/É uma estrela”. São frases da Lei de Thelema. O que fosse feito estaria dentro da legalidade. Na Sociedade Alternativa cada homem e cada mulher era uma estrela, um indivíduo que tem brilho próprio e se torna singular, com capacidades próprias de estabelecer sua maneira de se conduzir na vida.

“- O número 666 chama-se Aleister Crowley/A lei do forte, essa é a nossa lei/Viva a Sociedade Alternativa”. Na ciência da numerologia o nome do guru da doutrina resulta em 666. A lei do forte quer dizer a coragem de enfrentar o que estiver estabelecido como paradigma. Precisa ser forte para contestar o conservadorismo, as normativas, o regramento social. Princípio fundamental da postura anárquica. Essa é a Sociedade Alternativa sonhada por Raul Seixas e Paulo Coelho.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.


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